Introspecção no Inconsciente

(que já era mais do que hora da gente bater esse papo)
(título meramente de efeito).


Sessão 1.
Eu já tinha chegado sozinha na parte de que tudo isso era sobre mim, e não sobre ele. (me segurei para não ir de "você").
Eu só não tinha percebido que talvez a hora do sonho fosse tão importante quanto o sonho em si.
(por que lá, por que naquela hora?)

Uma boa amiga minha me disse que sou louca de, após sonhar com algo, despender tanta energia para entender o que aquilo significa. Eu acho que, sinceramente, esse é o mínimo, sabe? Se minha mente se deu ao trabalho de me transportar telepaticamente para uma vivência lírica só para que eu pudesse sentir algo bem específico, nada mais justo do que solucionar aquela questão e zelar para que minhas próximas noites de sono acompanhem de fato minha realidade.

Cheguei lá querendo que meu corpo me enviasse mensagens tão claras quanto um simples SMS, me explicando detalhadamente cada movimento que acontecia aqui por dentro. Hoje, eu só queria uma mensagenzinha um pouco mais clara do meu inconsciente, só isso. Cheguei, não quis enrolar, fui direto ao ponto: - Olha, eu queria dizer pro meu inconsciente que eu tô ouvindo, eu tô notando e anotando, mas como eu posso fazer com que ele seja mais específico comigo? Te-ra-pi-a - sussurrado e soletrado. Bem no fundo, eu tinha certeza de que essa seria a resposta. Coisa mais mágica isso de tirar uma horinha da semana pra se ouvir, né?

Contei que meu queixo tremia tanto (e que eu agradeci por estar frio e usar isso como desculpa), que eu sentia a ansiedade escorrer por cada pontinha dos meus dedos, por cada fiozinho de cabelo espigado. A energia, a ansiedade, a apreensão - elas estavam ali.

Eu volto lá pra 7ª série, é inevitável. Inevitável mesmo, não tem nenhuma vez que esse assunto pule na minha mente em que ela também não venha atrelada. Até passar em frente, de escola, até encontrar foto, até esperar que eu te encontra sem querer na rua só pra poder fingir que não te vi, esperando que meu coração saísse um pouquinho pela boca por alguns milésimos de segundo...
E quando vem a 7ª série, vem a identidade. Ou o começo dela, a mudança de chave. O que é totalmente injusto com a Rachel de antes, da van da malhação do blog dos 12 anos - mas essa é outra conversa.

Dessa época também, vem a auto-análise minuciosa e a tomada do controle dos meus próximos passos sendo eu. Quem eu queria me tornar? A vareta de aço enfiada no cu 24 horas por dia. A anorexia. O delírio familiar coletivo. A apropriação ou descobrimento de um estilo? O desespero para não estar de fora, para não parecer de fora. Eu nunca nunca nunca tinha estado dentro de nada. E mesmo nunca tendo pertencido a nada, eu não abandonava o pavor de não pertencer.

É difícil ir e voltar desse assunto voltar tanto para o passado. Vou tentar me concentrar no agora. E, para ser sincera, não muita surpresa veio no agora. Eu ainda não decidi ainda se é / foi algo ou se foi apenas um ilusão massiva da minha parte. E tudo bem se for, tudo bem mesmo, eu só quero saber de uma vez por todas o que é.

Pensamentos vão e voltam quando eu estou sozinha e é verdade que isso tem me dado certa ansiedade. Não é uma ansiedade angustiada, mas uma ansiedade imaginativa, que me dá tanta energia e movimento mental que me faz falar sozinha nas ruas. É divertido dar vasão aos meus pensamentos, desde que eu saiba que eu saiba que eles são apenas pensamentos (note to self).

A realidade e a imaginação sempre foi uma coisa complicada de separar. Eu ando trabalhando isso desde que me foi trazido ao consciente (pela Fran! obrigada Fran <3). Estou tentando ser o mais sincera possível comigo e com o meu trajeto, e vou ser sincera em dizer que é difícil ser fiel aos fatos acontecidos há mais de 10 anos. Mas eu estou tentando.

Na realidade, em nada muda me convencer de que eu sempre fui uma segunda opção para se caso a primeira opção não desse certo. Tudo bem. Eu lidei com isso, eu lidei com isso com o B por ex., e mesmo vendo ele naquele mesmo very dia, zero ansiedade foi criada. Eu sinto orgulho com um pouco de espanto desse fato, mas as coisas são como são e cabe a gente entendê-las ou respeitá-las. Okay?

O que eu vi foi uma pessoa machucada, com bastante raiva, com vontade de compartilhar isso com alguém. Talvez ele sempre precisou de uma figura feminina para se sentir completo e à vontade no mundo porque ele nunca se deu bem com a mãe dele? Tô indo longe demais? Sim, completamente viajando. This is how close I am to an answer this questão: softly swimming along the brisadas flowly ideas.
Enfim, eu ocupei esse espaço, que seja por pelo menos 1h de um final de domingo.
E ele ocupou o meu (espaço, qualquer ele que seja...).

Pronta pra próxima.


Sessão 2.
Vamos supor que não seja nenhuma mensagem secreta da garota de 13 anos. Vamos supor que isso tudo é - na sua forma mais pura e latente - tesão. Seria então apenas falta de vergonha na cara de estar flertando com uma (outra) realidade excitante? Porque aqui entra uma grande questão: eu já estou vivendo uma realidade excitante construindo uma vida em conjunto com alguém. 
(Não consigo deixar de notar a sensação estranha de que os dois fatos não se invalidarem).

Pode ser, claro que pode ser, por que não? Há 03 anos, era claro para mim: aquela crise toda era desejo. Tanto era, que isso de se sentir atraída(o) por alguém enquanto está numa ótima relação com outra pessoa é uma questão a ser resolvida dentro dos meus futuros relacionamentos. Eu sinto que existe uma resposta, eu só não tenho puta ideia de qual seja.

Enfim, naquele dia, foi tão fácil notar que era apenas tesão. Por que essa firula toda dessa vez?
Talvez por nunca termos brincado com nenhum termo sexual jamais, nem ao vivo nem nos sonhos, não vi brilhando essa chave como a solução desse mistério do interesse explosivo e repentino. De novo.

Talvez seja só repetição de paranoia. Por que eu conclui uma coisa: talvez todo esse coração entalado na garganta como se depois de quase conseguir sentir a maciez e a temperatura da sua boca (eu nunca me esqueci delas) só ocorra com você e nenhum outro ex igualmente presente nos sonhos, seja  justamente porque eu ainda consigo me imaginar com você, e com os outros o assunto já está morto e enterrado.

No fundo, tudo isso pode ser só fantasia minha. Ele pode não ser tão macio quanto eu me lembro, o sorriso pode não ser tão canino, a boca tão vermelha, a risada tão gostosa e o olhar tão penetrante como duas jabuticabas com salpicadas com açúcar.
Talvez ele não tenha nada disso. Talvez ele nunca tenha tido nada disso - talvez essa seja uma lembrança criada pela minha mente juvenil apaixonada. Ou nem isso, pode ser que ele seja criação da minha mente jovem adulta sedenta por uma nova excitante história de chamedoquequiser cheia de ferormônios e químicas cerebrais tão viciantes quanto saber que ele faz parte da caixa de "homens que não deram certo" e, mesmo assim, ainda ter curiosidade em se picar com isso. Ou quanto saber que você ainda flerta com pular de excitação em excitação, de vício em vício.



Como você seria uma mãe se ainda pensa nisso?


Sessão 3.
Eu ia começar com "pode ser o medo de abandonar a menina de 13 anos". Mas hoje, trabalhamos dentro de uma conclusão que me trouxe paz e entendimento. Sai da sessão tão alegre como se tivesse de fato recebido o tão esperado SMS do inconsciente.

A questão pode ser sim desejo - ou uma expectativa de desejo. Uma vontade de ir até lá, numa outra realidade, beber um pouquinho daquela água, e decidir qual água é mais divertida. A água do vizinho pode nem ser tão gostosa, mas só o fato de querer - e poder - experimentar dela já causa uma grande euforia.

Encontrei a vontade de euforia, relacionei ela com o desejo de sentir o flerte de pular de excitação em excitação - uma prática que eu bem conheço.

A questão é que: sim, faz sentido essa linha sem ponto final surgir agora, quando eu estou prestes a fechar um ponto com uma outra pessoa. A insegurança pode de fato não ser racional - tudo vai bem no eu consigo raciocinar, eu e ele nos damos muito bem e eu adoro viver essa relação. Tenho confiança nela. Me divirto vivendo ela. Mais importante: eu falo sobre crescimento quando falo dela. Falo sobre aprender tanta coisa nova que eu nem sabia que faltava no meu repertório de "como viver". Como ser mãe, por exemplo. Ser mãe, ser casada - não é nada do que eu conheço, não é nada do que já vivi. Seria esse o próximo capítulo da vida?

E por que ele? Ele é um dos únicos que minha cartola consegue tirar do raso, do compartimento mais próximo quando imagina "com quem você ainda transaria hoje em dia?". Nada mais óbvio do que ilustrar todo esse medo em dar um grande passo nele. Foi uma grande tacada, inconsciente, eu tiro meu chapéu.

Quando eu fico indecisa eu fico confusa (ou quando eu fico confusa de tanta emoção eu fico indecisa?), mas o melhor que eu fiz para mim foi não ter medo aquela noite. Não ter medo de me passar, de ir além dos meus limites, de ouvir minha mente e poder me tranquilizar no meu espaço. De apenas escutar e abraçar o que o momento estava me apresentando. Não ter medo de ficar louca. E eu vou dizer: foi difícil conter a emoção (ainda bem que estava "frio"), mas eu ouvi. E vi na minha frente uma pessoa não muito sincera. Não senti nenhum interesse sobre mim, meu estilo de vida em particular, por que ali, por que eu, por que agora? Existem tantos fios entre a gente que não tem um ponto final e conseguimos passar uma hora sem falar sobre nenhum deles. "Por que?"

A mente dança de uma forma livre dentro da nossa cabeça e do nosso coração. Antes de conscientemente perceber, o sentimento já estava nascendo e estava sendo jogado para ser vivido compulsoriamente por meio do sonho. O que você consegue tirar disso? O que é real? O que de fato acontece e aconteceu?

Eu sinceramente escolhi e terminei direito porque eu não tinha ideia do que fazer quando "crescesse". Eu nunca me vi como ser independente. Eu joguei a responsabilidade de escolha pela minha carreira nos pequenos deslizes contínuos dos meus pais (longe de serem perfeitos, um ooooooutro longo capítulo), mas talvez tenha sido eu que não tenha percebido antes que aquela carreira não me levaria para lugar algum. Eu poderia ter me levado mais a sério quando vi que direito não me interessava. Mas, em meio da emoção, a confusão mental, as prioridades que não se organizam em ordem, e quando você vai ver já está formada e completamente perdida no início da vida adulta.

É verdade que, depois de formada, tentei me interessar por uma ou outra carreira - sempre sem muito compromisso, sem muita determinação e sem muito sucesso. Eu não estava convencida de que já estava na vida adulta e que eu tinha que fazer uma escolha para valer - eu ainda estava experimentando outras coisas, como outras pessoas - amigos - e meu espaço interior. Não consegui balancear e fui muito não profissional em 2018.

Cheguei num ponto onde me sinto aliviada de ter escolhido algo para mim. Demorou um tempo para que eu concluísse internamente minha área de interesse e hoje me sinto sortuda em ainda poder estudar algo que realmente gosto, ao invés de ser obrigada a seguir uma carreira que não me encaixa tão bem. 

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