Sonhos?

Geralmente quando ouvimos uma canção que realmente toca nosso coração e nos lembra de momentos passados já vividos (no meu caso, essa aqui) bate aquela badzinha / sentimentobom / sorrisotortonorosto.

E nessa época de férias e planejamento de viagens, eu comecei a lembrar... e a lembrar... de quando eu organizava minhas malas para morar na praia, sem saber o que ia acontecer. Da época em que eu morava em Mallorca e era tão feliz que me sentia desesperada, sem saber o que fazer com aquela liberdade toda.

Da época em que eu gostava de você. E vivíamos juntos. E meditávamos juntos.

Da época em que eu sonhava em morar no Rio de Janeiro e ensinar inglês e espanhol para crianças carentes. Morar lá. Numa casinha simples. Sem pretensões.

Da época em que eu te conheci e meu coração ficou incompleto. Em que eu não precisei mais do yoga, das drogas, das festas pra me esquecer. Em que eu tinha você e você me tinha. E você me salvou.

Da época em que eu tinha sonhos. Caralho, faz tanto tempo que eu não sonho!

Esse ano se resumiu em aceitar (e não querer pensar sobre para não quebrar o coração) que eu tinha realizado meu último sonho e pronto: hora de voltar pra realidade. 

Não me permiti mais sonhar. Porque a época em que vivi meu sonho, me confundi tanto com a liberdade e tempo livre que eu tinha, que não soube ser tudo que eu queria e sonhei ser - fiquei estagnada, sofrendo, sem saber o que fazer e pra onde ir. Foi foda.

E então, se eu não sei aproveitar a liberdade sem responsabilidades, se eu morro de medo de voltar a ficar solta dessa forma no mundo sem um amparo emocional, o que eu quero? Sem saber o que queria, aceitei a vida como ela "deve ser" (estudar-passar de ano-publicar alguns artigos-pensar na profissão-correr atrás-namorar-comer bem-sair pouco...) e não pensar em nada além. 

Além... essa foi sempre a direção pra onde ia meu pensamento. Eu vivia o presente, eu estava ciente de tudo ao meu redor, mas o futuro, aaaahhh o futuro... ele acontecia todos os dias na minha cabeça, cada vez de forma mais bonita que a outra. E quando ele chegava: meu emocional não aguentava. Não estava preparado. Infelizmente.

A realização do meu sonho não foi de todo ruim. Mallorca me fez sofrer, me fez chorar, me fez angustiar, mas também me fez sorrir, gargalhar, de doer a barriga, de encher os olhos de lágrimas. Me fez agradecer, me trouxe muitos amigos e, principalmente, me fez refletir, e tentar descobrir essa pessoa dentro de mim, que se chama Rachel e que eu, confesso, não conheço muito bem. Angustiada e determinada a tentar entrar nos padrões onde me aceitariam, nunca me conheci. E agora, com 22 anos, como faz para conhecer?

Como faz para conhecer e saber exatamente o que EU desejo? O que EU sonho?

Como faço para jogar todo esse medo de lado, o peso de encaixar dentro do "mundo real" e me permitir a ir atrás de uma vida que eu queira?

Self Portrait. Annegret Soltau.

(Da série: as angústias de um Millennial)

É isso.