Mente vs. Química

Sarah Go's

"Não importa o nome que lhe damos - Mente, personalidade, alma -, gostamos de pensar que possuímos uma coisa maior do que a soma dos nossos neurônios, uma coisa que nos 'anima'.

Vai-se descobrindo, porém, que boa parte da mente é, na verdade, cérebro. Uma lembrança é um processo específico de mudanças celulares em pontos específicos da cabeça. Um estado de espírito é uma junção de neurotransmissores. Acetilcolina demais, serotonina de menos, e você entra em depressão.

Sendo assim, o que resta da mente?

Há uma longa distância entre não ter serotonina suficiente e pensar que o mundo é 'sem graça, chato e inútil'; e uma distância ainda maior até escrever uma peça sobre um homem obcecado por esse pensamento. Isso deixa bastante lugar para a mente. Algo está interpretando os ruídos da atividade neurológica.

Entretanto, esse intérprete será, necessariamente, metafísico e incorpóreo? Não será provavelmente certo número - enorme número - de funções cerebrais, que ocorrem paralelamente? Se toda a rede de ações minusculas que constituem um pensamento fosse identificada e mapeada, a 'mente' então se tornaria visível.

O intérprete está convicto de que a mente não pode ser mapeada, nem vista. 'Sua mente sou eu', afirma. 'Você não pode me analisar em dendritos e sinapses'".

- Garota Interrompida, Susanna Kaysen.

Winston Chmielinski

"E se, naquele tempo, deixara-se dominar pelo imaginário da melancolia, por que ele, porque justamente ele e não um outro qualquer? Tem uma falha estrutural de caráter, carece de vontade vital suficiente ou apenas teve sempre, sem saber uma insuficiência de serotonina? Não sabe. Hesita. Não é isso também a depressão?

A depressão é um processo químico?
Não, a depressão é a vida, ele tende a acreditar, naquele instante.
 Que consequências extrair dessa constatação?"

- As Fúrias da Mente, Teixeira Coelho.