Toma banho, penteia os cabelos, esconde as olheiras fundas e roxas, toma seu café da manhã - duas fatias de pão com margarina ou goiabada, dependendo do humor, e uma xícara quase cheia de café adoçado - veste-se, coloca seus sapatos, encontra sua bolsa, pega seu computador e finalmente desce. Atrasada, como sempre. O relógio nunca deu-lhe sequer um minuto de tranquilidade. Mesmo quando não tinha "nada para fazer", sentia-se pressionada por justamente isso: estar gastando seu tempo fazendo nada. Complicado sentir-se assim. Sentir-se que não pode, não deve, nunca, jamais relaxar. Jogar tempo fora. Respirar.
Descendo pelo mesmo elevador, dia após dia, percebe que presencia a mesma vista há 16 anos. Quando era menina, recorda-se que havia uma árvore linda que fazia parte daquela paisagem; pensava ser um pinheiro, daqueles que parecem árvores de natal, que havia dado espaço ao que era agora o estacionamento de um restaurante chique. Sinceramente, sentia falta da árvore. Quando pequena, cantava sempre "a árvore da montanha, olê-i-a-ô" enquanto subia naquele elevador. A primeira emoção do dia foi traduzida num sorriso amassado, recém-acordado.
Em contraposição a esse sentimento, tenta pensar nos colegas da faculdade, em sua relação com eles, e instantaneamente pensa naquela menina que costumava ser sua amiga e que, de uma hora para outra, parou de dirigir-lhe a palavra. Desabafa: entre tentar ser uma pessoa "normal" e tentar uma reconciliação e ser sincera consigo mesma, preferiu o segundo e admitiu que preferia assim. Gostava de ser deixada sozinha, no seu canto, fazendo o que bem entendesse. Que pessoa gosta disso? - pergunta-se a si mesma. "Qual é o problema???!!" defendia-se logo após. Tinha que se estudar melhor. Deixar de perder tanto tempo e tanta energia em coisas que, no final das contas, não adicionavam nada. Coisas essas tanto físicas quanto abstratas. Com o coração na boca e a respiração pesada, sentia que já não tinha mais forças para gastar com situações que, no futuro, acabariam não tendo mais valor algum.
Recomeçaria do seu zero.


Ser quem quiser...Que ideia bonita deste texto.
ResponderExcluirbeijos
Fala sério, heim, a vida está tão rápida que estou perdendo-me em segundos que deveriam durar para sempre.
ResponderExcluirA vida pede um pouco mais de calma, assim como Lenine disse.
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O mídia kit é pra caso de patrocinadores e parceiros: ai você mostra eles!
ExcluirAAAAAAAAH que inspiração mulher <3
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