Do Caminho e Da Intuição

Eu quero começar esse texto agradecendo. Pois é só na gratidão que eu tenho encontrado minha existência atualmente.

Em Ribeirão Preto, eu sofri. Eu me tranquei dentro de mim, perdi 10kg de matéria e diminui ainda mais todo fluxo de energia vital que eu poderia estar gerando e mantendo. Eu me sentia mais que triste: eu me sentia completamente infeliz, sem energia, culpada, não merecedora de estar viva. Eu sempre me senti assim, mas lá, num ambiente de rejeição e falta de acolhimento, eu sentia tudo isso a flor da pele. Eu cheguei ao ponto de sentir uma vontade inexplicável de colocar uma arma na boca e somente atirar para desaparecer. Antes, meu ímpeto era apenas em saltar da janela. Esse ímpeto estava se transformando e ficando cada vez mais, mais violento. Mais real. 

A rotina era ir dormir esgotada por ter que viver minha vida e acordar desesperada por ter que viver mais um dia na minha vida. Passar os dias flutuando de tristeza em tristeza, angústia em angústia, confusão em confusão. Como se os dias não passassem, e nada do que eu meditasse ou analisasse em terapia mudasse algo na minha vida. Como se diariamente eu estivesse provando para tudo e todos que eu estava caminhando... mas caminhando para onde? Eu me sentia vivendo uma vida que eu detestava, que não era nada daquilo que eu imaginei para mim. Eu sabia que eu estava extremamente infeliz, mas eu não tinha ideia para onde ir. Tudo que era meu, me deixava miserável. Estar com a dodô, eu só chorava. Estudar psicologia, eu não tinha foco ou paciência. Estar trabalhando dando aulas, me esgotava. A asma voltou depois de 20 anos tranquila, o peito doía e apertava como quando eu era criança, o fumo estava sempre presente mesmo quando eu não queria me apoiar nele. Eu não tinha forças nem de tirar um apoio que me arrastava cada vez mais para o fundo do poço. Meu quarto era gelado, e os sinais de alguém mais estava presente eram constantes. Eu dava risada sem medo da possibilidade de estar convivendo com alguém morto: afinal, eu também me sentia assim. Eu esperava mesmo que ele surgisse pra gente trocar uma ideia. Eu não tinha medo, eu só queria, assim como ele, deixar de existir por aqui. Eu estava irritada, estava com raiva, e me sentia muito, muito, muito frustrada. No fundo do poço.

Quando eu apliquei o teste do TAT nos meus conhecidos, eu vi essa lâmina e instantaneamente pensei: "Essa sou eu entrando no meu quarto na Casa Azul para ter uma crise em privacidade". Completamente acabada, sem nenhuma força mais para caminhar. Com todo peso da existência em cima de mim. Um soco no estômago, uma turvação da visão. Essa era minha realidade.

E aí, neste lugar, no mais profundo desespero existencial, começaram a me vir respostas "de dentro de mim mesma". Um dia, me foi soprado "agradeça a esse sofrimento", no meio da mais profunda das crises existenciais. Eu estava com raiva e mágoa dos meus pais por toda falta de amor e carinho pessoal e comigo. E então, no redemoinho da raiva, me veio: "Obrigada por todo sofrimento, pois somente por ele eu pude perceber o que é real e o que não é. O que importa e o que não importa. O que faz sofrer e o que faz sorrir. Obrigada pelo conhecimento. Obrigada pela chance de repensar, de recomeçar."

"Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim". Um sopro de luz e de conhecimento tomou conta de mim, me fazendo sentir gratidão por sofrimento vivido, pois só assim eu pude perceber o que realmente falta. O quanto pequenas coisas, maçãs, mancham. Há um tempo eu já havia percebido que quem faz sofrer é porque sofre. Tanta raiva, tanta mágoa dos meus pais pelos seus atos impensados. Pela "falta de amor". Amor a mim, amor a eles próprios. Pela falta de consciência. Me veio a mim, de mais profundo espaço de amor pessoal, agradecer pela oportunidade de sofrer, de sentir todo inferno que essas atitudes trazem na vida humana e escolher um novo fim. Obrigada meus amigos. Eu sempre soube que eu estava ali, ali dentro de mim, e que eu me amava e que eu queria cuidar de mim. Eu só não sabia que não estava sozinha. Eu suspeitei que esses pensamentos eram claros demais, positivos demais... Obrigada. Obrigada de coração.


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