Aquela personalidade implosiva de raiva maluca que sempre esteve presente.
A asma interiorizada, toda inflamação e machucado exterior, preso no peito, arranhando, sempre presente.
A gagueira, a voz travada, impossibilitada de sair da garganta, querendo se expor e ao mesmo tempo morrendo de medo de existir, de se colocar para fora, de se jogar, se ser.
Eu cresci e minha implosão se desenvolveu pro meu físico.
Eu fui anoréxica por um ano completo.
O medo absoluto de ganhar peso, o pânico de ser grande, de ser notada, de ser apontada, de ser vista - vista como algo ruim, algo errado, algo feio, algo a ser rejeitado. Ridicularizado, abandonado e rejeitado. Pânico absoluto. Eu vivi um ano presa numa roda de medo tão intenso que eu rezava, escrevia e desejava, de maneira muito forte, que eu nunca mais vivesse aquele controle mental tão grande assim. Minha cabeça estava acabando com a minha vida - literalmente.
Em casa, eu estava sempre irritada com uma bola de nervoso entalada no peito.
Todo momento em conjunto, eu estava travada, irritada, morta por dentro. Uma raiva absurda por nunca ter podido existir. Por sempre que, tentei me expor, ser cortada, tolhada, rejeitada, abandonada. O sentimento de inadequação e culpa por existir era muito forte e ainda é, até hoje.
Até hoje, volta e meia eu me encontro curvada num canto da minha casa, recebendo um soco na garganta ou na boca do estômago, junto com um sentimento muito forte de querer deixar de existir. Pois tudo que eu faço é uma merda, eu nunca vou conseguir ser dona de nada - nem dona de mim, nem dona das minhas escolhas, nem dona do rumo da minha vida. Eu vou pra sempre seguir sendo esse monte de merda disforme, inapropriado e incômodo.
Incômodo. Isso que sempre senti. Que sou incômoda, que eu nem deveria estar aqui, nem ali. Que eu deveria simplesmente desaparecer e deixar de existir.
E isso eu sinto. Sinto muito muito forte em mim, todos os dias.
E como eu me sinto incômoda, eu sou incômoda.
Como eu sinto que ninguém nunca me escuta, eu clamo para que todos sempre me escutem.
Como eu sinto que tudo que eu faço é uma merda e não vale a pena, eu me deixo travar nas expectativas do mundo e apenas flutuo como posso no mundo real, desejando que tudo seja apenas um sonho de mau gosto.

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