E na análise de hoje trabalhamos... E trabalhamos, trabalhamos, trabalhamos.
Começamos pela estrutura. Desde criança - diferente. Sofrimento em ser diferente.
Ser muito alta, muito gorda, gaga, menos interessante. Até meu nome era muito ruim.
Uma das memórias mais antigas que tenho de mim mesma é de mim, no banho, me apertando inteirinha e chorando, chorando muito, perguntando para Deus porquê é que eu era eu. Por que eu era daquele jeito? Por que eu era... eu? E me odiando, odiando muito.
Comecei a escrever por necessidade.
Na sexta série, passei alguns meses completamente sozinha.
Me vi sem poder conversar com ninguém. Pessoas que haviam estudado comigo desde criança. Eu não era vista. Ninguém me dirigia a palavra. E eu sinceramente não sabia o motivo.
Na cabeça de uma criança de 12 anos, eu precisava falar. Eu precisava conversar.
Pegava meu caderno da CAPRICHO, de capa roxa, com uma estrela de glitter, e ia até o final do pátio sentar num banco para poder escrever sozinha.
E assim se passavam 20 minutos de intervalo.
E assim fui aprendendo a organizar meu pensamento em palavras escritas.
E quando o pensamento era rápido demais,
Eufórico demais,
Ansioso demais,
Angustiante demais,
Eu escrevia.
E ainda escrevo.
Voltamos ao tema do dinheiro. Voltamos ao tema da casa.
A família. A guerra fria.
O meio-irmão (quetodomundosabeahistóriainteiramaseunãoqueriasabercara).
Me tranquei dentro de mim mesma.
Eu tinha duas opções. Ou eu explodia. Ou eu abdicava dos sentimentos.
Lembro-me do dia em que fui humilhada na frente dos meus primos por ter ido ao shopping numa segunda-feira.
Lembro-me do dia em que fui humilhada na frente da minha família por ter perdido o timing da apresentação de teclado (eu não tinha ideia de como tocar teclado).
Lembro-me do dia em que propus à minha mãe de termos uma relação estritamente de negócios. Eu não queria mais sentir nada por eles, e o que eu sentia era demasiado.
Eu queria desesperadamente não sentir nada.
Aos 25 anos, me entupo de droga diariamente. Quando penso na possibilidade de ficar um dia sem entorpecentes, reajo. Fico angustiada. Quero instintiva e rapidamente suprir um tipo de droga por outro.
Fico cansada do debate mental que tenho entre o pré, o durante e o pós drogas.
O ansiolítico não conta como droga, obviamente, ele é um salva-vidas. Digo das outras.
Elas me fazem tanto mal, que sinceramente não sei responder o que vejo nelas. Por quê as busco com tanta vontade e frequência.
Algo falta em mim.
É o primeiro dia em 05 meses que consigo sentar e escrever naturalmente no computador.
Não sentia que tinha muito a oferecer sozinha e individualmente como pessoa, preferia me esconder na sombra da existência das outras. Embora, diariamente eu me cobre para ser um ser humano responsável e produtivo, eu não conseguia fazer nada além de me enrolar, enrolar os outros e enrolar um baseado. Ou mais de um.
Será que eu fiquei burra? Foram as drogas?
Será que eu fiquei louca? Foi minha casa?
Não surtiu efeito, o meu comentário sobre não culpá-los. Sinceramente, eu achei que fosse algo comum e natural: culpar os pais pela má criação, pela loucura... Por tudo em geral.
Me adiantei em dizer que não os culpava e, talvez seja por isso que é tão difícil de aceitar a loucura. Não tinha como ser diferente.
São duas crianças brincando de ter crianças.
Uma egocêntrica ao extremo. A outra não tem nem uma noção de "eu".
Um escolhe a dedo e a gosto, quando bem entende. A outra, nem sabe o significado da palavra "escolha".
Essa culpabilização não vai acabar nunca? A estrutura é como ela é. E daqui pra frente?
Eu não consegui chorar.
Eu optei por não chorar e não explodir. Não sucumbir à loucura.
Eu ia ultrapassar tudo aquilo sem me rebaixar.
Eu me fechei tanto, que me esqueci de comer.
Meu corpo se fechou de fato, "mesmo". Eu não conseguia beijar meu primeiro namorado, afinal ele ia terminar comigo algum dia e, nesse dia, eu explodiria. E eu não podia me dar ao luxo de explodir jamais.
Eu esqueci de comer, de ir ao banheiro, de menstruar.
Eu me fechei.
Eu me esqueci em que andar estava. Era o 08º ou 18º?
Eu me esqueci de quantas vezes já odiei as drogas e de quantas vezes eu já voltei para elas.
Eu me esqueci de me olhar no espelho. Eu me esqueci de passar maquiagem.
Eu me esqueci como era meu rosto na época da faculdade.
Eu me esqueci como acordar cedo, estudar, ser uma pessoa produtiva.
Eu me esqueci como ter uma rotina.
Eu me esqueci de ir ao mercado e de comer comida.
Todos os dias, eu só pensava em duas coisas: como faria para me sentir menos culpada aquele dia e quando usaria drogas. Só isso.
Eu ainda passo por tudo isso.
Encho a boca pra dizer que "faz dois anos que...", mas "dois anos" o meu ovo.
Faz pelo menos 05 anos que me encontro nessa espiral tortuosa da contra-rotina. Da contra-imagem.
Da infantilidade contra os pais, o sentimento, a culpa.
De ser rebelde e contra mim mesma. De me odiar tanto, mas tanto, que não sou capaz de enxergar com que pernas posso caminhar pelos caminhos que nem me vi traçando. Achei então que minha única escapatória era tentar escapar. E cada vez mais, entrar mais e mais nas fúrias da minha mente.
Malditas drogas.
Existe saída?
Me vejo presa em jogos de existência.
Afinal, se na vida nada for real e tudo for efêmero, ela fica muito menos pesada.
Na verdade, quando foi mesmo que ela começou a ser pesada? Não me lembro de um momento sequer ter passado pela existência sem ansiedade, culpa ou sofrimento.
Mas me lembro perfeitamente de um dos dias em que me senti como se nunca tivesse sofrido na vida.
Me lembro também do dia em que achei que sorrir nunca mais seria possível.
Dois sentimentos tão extremos como esses... O diagnóstico.
Eu ainda desacredito dele, sabia?
O diagnóstico.
Me recuso a acreditar completamente que, aquilo que se passa em minha mente, seja muito mais do que apenas a experiência humana. A sofrida experiência de ser humano.
E se tudo for apenas um jogo, então eu apenas tenho que ser boa nele. Okay nele.
Um dia após o outro, fase após fase... e assim escrevendo minha história, por caminhos incertos, medonhos, medíocres até.
Eu sinto falta da sanidade que nunca tive.
Eu seria grande se fosse normal. Eu seria incrível.
A vida mais bonita de ser vivida, ela seria minha...
O que tem de errado comigo?
Qual é o diagnóstico...?
Existe cura?
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