Perdi durante horas e horas a minha montagem humana

"Aconteceu-me alguma coisa que eu, pelo fato de não saber como viver, vivi uma outra?
Não quero me confirmar no que vivi - na confirmação de mim eu perderia o mundo como eu o tinha, e sei que não tenho capacidade para outro.
Estou desorganizada porque perdi o que não precisava?

 É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo. Mas e agora? estarei mais livre?
Por que não tenho coragem de apenas achar um meio de entrada? Oh, sei que entrei, sim. Mas assustei-me porque não sei para onde dá essa entrada. E nunca antes eu me havia deixado levar, a menos que soubesse para o quê."


Eu não sou.
Na verdade, nunca senti que algum dia fui.
Andava tentando entender o vazio
De ser exatamente o que todos somos:



{                                                     } 




Exemplos nítidos
A mutabilidade
Da minha aparência
Das minhas feições
Do meu ritmo
Da minha fala
Do meu pensamento
Das minhas conclusões
E logo, desconclusões

Fazem parte do ser exatamente o que eu sou:
Não ser.


Se até o Universo,
Criador de tudo
Constantemente não é,
Com sua diária e inscontante mudança,
Como eu
Uma simples partícula de experiência cósmica
Uma simples explosão química
Uma consciente curiosidade
E vaga experimentação humana
Não seria mutável?


E não seria apenas aceitando o meu não ser
Que eu finalmente
Poderia enfim
Ser?


"Se tiver coragem, eu me deixarei continuar perdida. Como é que se explica que o meu maior medo seja exatamente em relação: a ser? e no entanto não há outro caminho. Como se explica que o meu maior medo seja exatamente o de ir vivendo o que for sendo? como é que se explica que eu não tolere ver, só porque a vida não é o que eu pensava e sim outra como se antes eu tivesse sabido o que era! Por que é que ver é uma tal desorganização?

Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive.

Se eu me confirmar e me considerar verdadeira, estarei perdida porque não saberei onde engastar meu novo modo de ser - se eu for adiante nas minhas visões fragmentárias, o mundo inteiro terá que se transformar para eu caber nele."

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